A maioria dos brasileiros prefere ter acesso a serviços públicos melhores a pagar menos impostos, caso pudessem escolher entre os dois cenários. Esse é um dos resultados da pesquisa divulgada pelo instituto Data Popular, que ouviu 3 mil pessoas em 53 cidades de todas as regiões do país. Entre os entrevistados, 81% ficariam com a primeira opção, enquanto 12% optariam por tributos mais baixos. “O problema não é pagar, é não ver contrapartida”, afirma Renato Meirelles, diretor do Data Popular. “Mesmo pagando mais impostos, por causa da alta do emprego formal, o brasileiro preferiria contar com serviços melhores.”
A pesquisa mostra que o descontentamento com os serviços públicos, um dos principais motivos das manifestações de junho passado, ainda é uma realidade. A pior avaliação foi para a segurança, que recebeu nota 3,64 dos entrevistados. “Quanto maior a população da cidade, mais o item segurança aparece com uma avaliação ruim. Outro fator para que ele seja mal avaliado é que a segurança afeta a todos, mesmo quem não usa hospital e escola pública, por exemplo”, explica Meirelles. Nenhum serviço, no entanto, se saiu bem no levantamento. O segundo pior avaliado foi a saúde, com nota 3,73. Em seguida, aparece transportes, com 3,87 e, no topo da lista – mas não muito distante do último colocado – está a educação, reprovada com nota 4,56. “Fizemos comparações com a avaliação de serviços privados equivalentes, como escola e hospital, e os serviços públicos sempre aparecem como pior avaliados”, diz Meirelles. “Um grande motivo de irritação é o fato de o brasileiro não ter para quem reclamar, de não haver um ‘Procon’ para serviços públicos. 79% dos entrevistados acham que um código de defesa do consumidor melhoraria a situação”.
Quem paga a conta?
A pesquisa também mediu a opinião dos brasileiros sobre quem deve pagar pelos serviços considerados básicos. Hospitais e postos de saúde, educação básica e creches são aqueles que mais pessoas (91%) acreditam que devem ser totalmente pagos pelo governo – ou seja, ser gratuitos para a população. Em seguida vêm os remédios – 84% acham que devem ser de graça, enquanto 15% acreditam que o governo deve pagar metade e 1% afirmam que o consumidor deve pagar sozinho. No caso dos transportes, outra questão muito discutida nas manifestações de junho, 56% acham que deve ser gratuito, 32% afirmam que o governo deve bancar metade da tarifa e 10% crêem que a população deve pagar integralmente o serviço. Esse percentual só é maior quando a questão é sobre internet, que para 22% deve ser paga totalmente pelo usuário, enquanto 54% defendem o acesso gratuito. “Percebemos que cresce o número de pessoas que acham que o transporte deve ter subsídio, mas não ser gratuito”, afirma Meirelles.
Vida melhorou
Apesar da má avaliação dos serviços públicos, a maioria não está descontente com a situação pessoal. Para 67%, a vida melhorou no último ano. Entre eles, 52% acreditam que esse progresso foi resultado do próprio esforço. Num dado curioso da pesquisa, a segunda razão mais apontada foi Deus, por 31% dos entrevistados. Para 13%, o motivo foi a família. O governo (2%), a sorte (1%) e o patrão foram as explicações menos citadas.
Fonte: Globo; 25/04