O Brasil já não é um país jovem, com as ruas tomadas por crianças jogando bola e empinando pipa, como se via poucas décadas atrás. Tampouco é um país com o perfil do Japão ou da Alemanha, que têm, respectivamente, 23% e 20,8% da população com idade superior a 65 anos — aqui a proporção é de 6,9%. O que mais impressiona na nossa estrutura etária não é a fotografia. É o filme que vai passar até a metade do século. Poucos países vão mudar tão drasticamente a situação demográfica.
Levantamento do Pew Research Center, dos Estados Unidos, com dados da Organização das Nações Unidas, mostra que, em 2050, o Brasil terá 22,5% de idosos. Estará, portanto, no nível em que se encontram Japão, Alemanha e Itália hoje, de acordo com dados de 2010, os mais recentes. O que impressiona, porém, é a velocidade da transição brasileira. Entre os outros países, poucos vão mudar tão radicalmente.
Do 15º lugar no grupo de 23 nações analisadas pelo Pew Research Center, o Brasil vai para o 9º. Em 30 anos, passará por uma mudança que na França representou um processo de 120 anos. O Brasil está abaixo da média mundial hoje no número de idosos. Estará acima em meados do século. “Mais do que a comparação com outros países, o que importa é se vamos dar conta de financiar a situação que teremos”, analisa a economista Ana Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Embora não seja uma nação com tantas crianças quanto no passado, o Brasil tem, sim, muitos jovens no mercado de trabalho. Isso ajuda a pagar a conta da nossa Previdência Social. Ela funciona pelo sistema de repartição, no qual o dinheiro de quem contribui cai diretamente no bolso de quem recebe benefícios. Atualmente, cada grupo de 100 trabalhadores da população economicamente ativa sustenta a aposentadoria de 17,4 idosos. Em 2030, o mesmo grupo estará sustentando 29,8 aposentados; em 2050, 52,9; e, em 2060, 64.
A situação atual é chamada de bônus demográfico. Deveria permitir uma folga orçamentária, formando um colchão para a situação futura de vacas magras. Mas o que se vê é exatamente o contrário: o déficit da Previdência não para de subir. De R$ 38,8 bilhões em 2011 subiu para R$ 42,3 bilhões em 2012, um aumento de 9%. E no ano passado deu um salto ainda maior, de 14,8%, atingindo R$ 51,2 bilhões. Com base em números oficiais, o ex-ministro da Previdência José Cechin calcula os impactos do envelhecimento na Previdência Social. Hoje diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Cechin afirma que nos próximos 15 anos o número de beneficiários passará de 27 milhões para 48,2 milhões, crescimento de 78% entre 2013 e 2030. O percentual saltaria de 13,4% para 21,6% da população. Quando se olha para 2060, os números são ainda mais impressionantes, cerca de 37% da população será usuária do sistema, que carregará 81 milhões de beneficiários, praticamente o triplo do peso de hoje.
Planejamento Parte de um pequeno grupo de brasileiros, a relações-públicas Cinara Rabello Burthardt, de 38 anos, e o marido, Daniel Burthardt, 40, fogem à regra da maioria. Enquanto vivem o presente eles planejam o futuro. Fazem poupança para a aposentadoria a partir de investimentos como a previdência privada e também em imóveis. O filho de 3 anos também já conta com uma poupança desde o dia em que nasceu. Segundo Cinara, o objetivo é garantir a faculdade do garoto, mesmo que ele escolha um curso privado e caro, como medicina. “Não é fácil começar a fazer poupança. Pago um plano de previdência no meu trabalho e parte do valor é descontado em folha. No início eu pensava, meu salário é tão pequeno e ainda vem esse desconto”. Hoje, 15 anos depois, sei que esse valor vai fazer diferença em minha aposentadoria”, ensina.
Fonte: EM.com.br