A forte desaceleração da economia brasileira neste ano surpreendeu economistas e vem contaminando ainda mais as expectativas de crescimento para 2015, mas a perspectiva de aumento ainda maior dos preços administrados evitará que o crescimento lento se traduza em menos inflação.
Ao contrário, a visão majoritária agora é de que a elevação nos preços não vai ceder até o fim de 2015. Esse cenário mais frágil, segundo analistas consultados pela Reuters, vai tornar a vida do próximo governo ainda mais dura, obrigando-o a adotar medidas dolorosas.
Esse movimento é claro nas estimativas de economistas compiladas pelo relatório Focus, do Banco Central. As projeções medianas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2014 e 2015 começaram o ano em 2 e 2,5 por cento, respectivamente, e foram caminhando gradualmente para baixo. Na última leitura, os números passaram a 0,33 e 1,04 por cento.
O pessimismo vem das sucessivas decepções com o ritmo da atividade neste ano. No segundo trimestre, a economia brasileira encolheu 0,6 por cento, entrando em recessão técnica pela primeira vez desde a crise de 2008/09.
No caso da inflação oficial, as expectativas também estão longe de serem otimistas. No início do ano, economistas esperavam que o IPCA desacelerasse de 5,96 por cento em 2014 para 5,5 por cento no ano que vem.
No começo de maio passado, a projeção para este ano chegou a superar o teto da meta do governo –de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais–, passando a perder força, enquanto a previsão para 2015 acelerou o passo.
Agora, economistas esperam que o IPCA fique em 6,29 por cento tanto neste ano quanto no próximo.
Ou seja, o quadro é de inflação elevada e sem arrefecimento no médio prazo, mesmo após o recente ciclo de aperto monetário, que levou a taxa básica de juros a 11 por cento ao ano.
Segundo as últimas estimativas do Focus, a inflação dos preços monitorados deve ficar em 7 por cento no ano que vem, a maior em dez anos se concretizada.
Neste ano, ela deve ir a 5,10 por cento. Agentes econômicos contam com fortes reajustes de tarifa de energia elétrica e nos preços da gasolina após as eleições de outubro.
Fonte: Exame