Os investimentos que chegaram ao Brasil no mês passado foram mais do que suficientes para cobrir a conta negativa de todas as transações do País com o exterior no mês de agosto. Mas o Banco Central já prevê dias difíceis para setembro, com um rombo de US$ 6,7 bilhões – mais do que o dobro da projeção de ingressos pelo chamado de Investimento Estrangeiro Direto (IED).
O principal motivo desse descompasso entre entradas e saídas é a balança comercial, que contribuiu no resultado de agosto, mas que deve influenciar de forma negativa o setor externo de setembro com a contínua queda dos preços das commodities – as maiores estrelas de exportação doméstica.
O desânimo com o saldo das trocas comerciais chegou às novas estimativas do BC. A instituição prevê um superávit de US$ 3 bilhões neste ano – em junho, previa US$ 5 bilhões. A previsão do governo ainda está acima das contas dos analistas do mercado financeiro, que preveem saldo positivo de US$ 2,4 bilhões em 2014.
Em agosto, porém, o vigor das exportações evitou um déficit superior aos US$ 5,5 bilhões registrados nas chamadas transações correntes. A surpresa com os investimentos estrangeiros, que fecharam agosto com entradas de US$ 6,8 bilhões, gerou até uma “sobra” de recursos para fechar a conta. O volume, de acordo com o BC, foi o maior para meses de agosto da série histórica.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que o quadro de financiamento da chamada conta corrente continua “confortável”, financiada da “melhor maneira possível”, com os investimentos do exterior cobrindo cerca de 80% do rombo nas contas externas. “O IED surpreendeu mais uma vez. Vimos um movimento mais forte nos últimos dias.”
O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, avalia que a melhora dos números de agosto ocorreu, porque as empresas estão se financiando com recursos de suas matrizes no exterior. Isso decorre, argumenta, do encarecimento do crédito em razão da fraca atividade econômica que levou à inadimplência e ao maior rigor dos bancos. “Não estamos falando de recursos que entram no Brasil para financiar novas plantas. É um recurso para operações de tesouraria das empresas, para compensar queda de faturamento por conta do mau momento da nossa economia”, afirma.
Para 2014, o BC segue trabalhando com um descasamento entre o resultado externo e o financiamento de IED. O saldo das contas correntes até o mês passado está deficitário em US$ 54,8 bilhões – maior do que o investimento acumulado no mesmo período, de US$ 42 bilhões. Para o fechamento de 2014, o BC não mexeu nos cálculos: manteve previsão negativa de US$ 80 bilhões para as contas e um IED de US$ 63 bilhões. “Boa parte das revisões reflete a incorporação de informações dos últimos três meses. Foram revisões muito pontuais”, disse Maciel.
Além da balança comercial, as mudanças incluem as projeções para investimentos em renda fixa, que subiu de US$ 18 bilhões para US$ 23 bilhões, e das despesas com juros, que passou de US$ 14,4 bilhões para US$ 14,5 bilhões. Embora a autoridade monetária previsse um arrefecimento dos gastos com viagens internacionais desde o ano passado, a estimativa para este ano foi ajustada de US$ 18 bilhões para US$ 18,5 bilhões. Por fim, a estimativa de remessas de lucros e dividendos para o exterior caiu de US$ 26 bilhões para US$ 25 bilhões.
Fonte: Jornal do Comércio