Uma das novidades da proposta é a criação de fundo constitucional
Em 30 dias, Eduardo Cunha quer votar proposta que valida incentivo fiscal considerado ilegal pelo STF e cria fundo constitucional para compensar perdas
Brasília – A Comissão Especial da Reforma Tributária se reunirá hoje para apresentação, discussão e, se possível, votação do relatório do deputado André Moura (PSC-SE).
Uma das novidades da proposta é a criação de fundo constitucional para compensar eventuais perdas dos estados com a unificação do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Se aprovada, a proposta será levada a votação em plenário, dentro de 30 dias, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Do contrário, o peemedebista quer levar à decisão alguns pontos que possam ter o mínimo de consenso. “O Parlamento vai contribuir para a retomada da atividade econômica, agindo em consonância com a sociedade”, afirmou Cunha. Ele também quer agilizar a discussão de propostas sobre a reforma da Previdência e a respeito da exploração de petróleo na camada pré-sal.
Os defensores da proposta afirmam que a unificação do ICMS poderá encerrar a “guerra fiscal”, que envolve vantagens tributárias oferecidas pelos Estados para atrair investimentos privados, e validar incentivos fiscais considerados ilegais pelo Supremo Tribunal Federal.
Antecipado pelo presidente da comissão, deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), o parecer de Moura prevê a criação do Fundo de Equalização de Receitas para nenhum estado perder. “Isso vai sair dos recursos do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), do Imposto de Renda”, disse o comandante do colegiado.
Para Rocha, caso a proposta seja aprovada, ela poderá simplificar a arrecadação tributária, diminuir o efeito regressivo em que os mais pobres pagam mais impostos, – e fazer uma justiça fiscal, acabando com o acúmulo de tributos ao longo da cadeia produtiva.
Segundo o presidente da comissão, ainda existe oposição à unificação do ICMS. Ele garante, porém, que a maioria dos estados apoia a medida. “Alguns estados da região Centro-Oeste se colocam contra o fim da ‘guerra fiscal’, contra a legislação única para este tributo, que é um dos mais complexos que nós temos”, disse.
Repatriação e medo
Não há consenso nem no governo nem na oposição sobre a melhor proposta de Reforma Tributária. Parte da oposição acha mais adequado usar parte da verba que entrará no País por meio de legislação recentemente aprovada no Congresso e sancionada pela presidente Dilma Rousseff a respeito da repatriação de recursos enviados ilegalmente ao exterior.
Segundo o deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), o governo não está de acordo com essa possibilidade.
“Esse dinheiro da repatriação de recursos seria para isso também, mas o governo não quer. Ele quer o dinheiro só para ele. E aí? Quem vai ganhar essa briga? Há muita discussão ainda”, comentou Kaefer.
Para o parlamentar, para acabar com a “guerra fiscal”, ou seja, proibir os incentivos fiscais e isenções do ICMS dos estados em cima de uma nova legislação, será necessário a criação de um fundo constitucional para compensar.
“Eu acho o ideal seria termos uma lei maior que acabasse com a isenção fiscal ou que os estados arcassem diretamente com cada isenção que deu em seu estado. Isso quer dizer, cada governador pagaria sua conta. Em minha opinião, não é o ideal criar um fundo onde todos os estados vão pagar para privilegiar os que tiraram o ICMS de suas empresas. Temos que pensar bem”, argumentou.
Kaefer disse não ser plenamente favorável à criação do novo fundo porque existem alguns temas que devem ser discutidos primeiro.
“Quem vai colocar o dinheiro neste fundo? Se forem os próprios estados que deram o benefício fiscal, acho correto. Mas não acho justo que o estado que não concedeu este benefício às suas empresas ajude o fundo. Cada um age com o seu”, afirmou para completar que a criação deste fundo é questionável.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), relator na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) de proposta de mudança no sistema tributário, disse que é preciso enterrar de vez a “guerra fiscal”. “Muitos investimentos ficam travados por conta da insegurança por parte das empresas”, afirmou.
Fonte: DCI – SP – Por: Abnor Gondim