O ano do aperto no orçamento tem feito consumidores deixar para trás a fama de “última hora” e acelerar a entrega da declaração de Imposto de Renda (IR) de 2015 numa tentativa de antecipar a restituição. É o que justificam escritórios de contabilidade em BH que registram, até o momento, uma alta de 15% na procura pelo serviço, que pode custar de R$ 100 até R$ 1,2 mil dependendo da complexidade da declaração. Em Minas, já foram 450 mil documentos entregues, o que corresponde a 17% do esperado. Neste mesmo período do ano passado, o percentual era de 12%. Em todo o Brasil, já foram 5,6 milhões de declarações feitas, dentro de um universo de 27,5 milhões que são esperadas.
As pessoas físicas que receberam rendimentos tributáveis superiores a R$ 26.816,55 em 2014 (ano-b ase para a declaração do IR deste ano) têm até 30 de abril para entregar a sua declaração. Os lotes da restituição do IR, que serão pagos a partir de junho, priorizam os idosos e pessoas com deficiência e doenças graves. Após a liberação destes pagamentos, utiliza-se como critério de prioridade a data de entrega da declaração.
Além de querer antecipar a entrega para receber a restituição mais cedo, os contribuintes, diante de um aperto econômico, também estão tentando reduzir o impacto da mordida do leão no bolso e, por isso, muitos optam em solicitar a ajuda de um profissional. É o caso, por exemplo, do empresário Luiz Gustavo Barbiere, que, pela primeira vez, antecipou a entrega do documento como pessoa física e jurídica.
Ele conta que o atual cenário da economia exige dos contribuintes um melhor planejamento. “A crise que estamos passando, tanto econômica quanto política, faz com que procuremos nos adiantar, para que, no futuro próximo, não tenhamos surpresas desagradáveis”, comenta Luiz. Ele diz que, além de se adiantar, ele prefere pagar um profissional para fazer o serviço, para que não haja nenhum erro que o prejudique com o leão. “Pode-se cair na malha fina por causa de um erro pequeno, Quando agimos com antecedência, estamos nos precavendo e evitando transtornos, ainda mais em um ano tão instável”, diz.
No escritório do contador Mário Mateus, também vice-presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais, a demanda pelo serviço de declarações de renda aumentou em 15%. Ele conta que, como o ano de 2014 foi de dificuldades financeiras, muitas pessoas estão antecipando a entrega da declaração e procurando profissionais na tentativa de conseguir mais rápido a restituição e ter um planejamento para este ano. “Vejo que aqueles que tiveram prejuízos no ano passado, como os que investiram em bolsa de valores e perderam dinheiro com as ações, querem se informar melhor e estão se preparando para o que vem pela frente”, comenta.
O aumento na procura, segundo ele, é reflexo da crise econômica que tem feito o brasileiro se planejar “A pessoa passa a se preocupar mais e a se preparar, Como há dúvidas referentes a compras de imóveis para a declaração e outros, quando a mesma é mais complexa, eles preferem pagar alguém para fazer como forma de segurança”, comenta Mário. No ano passado, a altura do calendário, ele tinha feito 100 declarações, até o início desta semana, já eram 120.
Essa preocupação com o que e como declarar aumentou o número de telefonemas no escritório de contabilidade Papyrus. Segundo a gerente geral, Kely Aparecida Fernandes Oliveira, a cartela de clientes da empresa ainda não se alterou em relação ao ano passado, porém, este ano, o que tem ocorrido de atípico é a demanda por informações. “As pessoas estão mais preocupadas em declarar tudo corretamente. Há ligações de brasileiros que moram fora e querem saber como declarar as remessas enviadas”, exemplifica Kely.
Esse passo acelerado dos contribuintes foi detectado pela Receita Federal. Segundo o superintendente da Receita em Minas, Hermano Lemos de Avellar Machado, na segunda-feira já haviam sido entregues 4,3 milhões de declarações, sendo que, no mesmo período do ano passado, até 23 de março, eram 3,5 milhões. “Houve um aumento considerável. Mas se deve há vários fatores, entre eles, o programa da receita que está mais simples e fácil para ser usado”, defende.
A simplicidade do programa e o cenário econômico trouxeram outros reflexos ao contador Silvério Papa Ferreira, também vice-presidente do Sindicato dos Escritórios de Contabilidade, Auditoria e Perícias Contábeis no Estado de Minas Gerais. Ele conta que, no ano passado, neste mesmo período, ele fez 100 declarações, este ano, foram apenas 32. Ele atribui a queda ao fato de muitas pessoas estarem com o orçamento apertado para pagar um profissional.
Fonte: Estado de Minas