Com a Itália novamente em recessão e a economia alemã refém da desaceleração, a esperança de que a zona do euro levantasse voo no segundo trimestre se dissipou, um ano depois de ter saído da recessão.
No verão (do hemisfério norte) de 2013 a zona do euro deixou para trás seis trimestres consecutivos de contração de seu Produto Interno Bruto (PIB).
Um ano mais tarde, as perspectivas são sombrias: a economia da região é “fraca, frágil e desigual”, opina o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, que reconheceu no início de agosto a existência de uma “desaceleração na dinâmica do crescimento”.
Embora se verifique uma pequena queda, o desemprego se mantém em níveis insuportáveis, afetando 18,4 milhões de pessoas, entre elas 3,3 milhões de jovens. Além disso, a ameaça de deflação pode prejudicar ainda mais a economia da zona do euro.
Está prevista para a próxima quinta-feira a publicação dos dados trimestrais de crescimento na zona do euro, após a divulgação dos números da Alemanha e da França, as duas principais economias do bloco. Os analistas prevem um crescimento de 0,2%, como no início do ano, mas alguns não excluem que essa previsão seja muito otimista.
Os primeiros sinais não são favoráveis: a Itália entrou em recessão no segundo trimestre, com uma contração de 0,2% do PIB, a Bélgica cresceu somente 0,1% e a Espanha 0,6%. São dados que deixam entrever que a recuperação “talvez tenha atingido o pico, antes de ter realmente começado”, estimou recentemente Michael Pearce, da Capital Economics.
As duas maiores economias da região também dão sinais negativos. A economia da Alemanha, tradicional locomotiva da região, pode se contrair em 0,1% após o crescimento de 0,8% no primeiro trimestre já que a indústria demonstra debilidade.
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) advertiu na segunda-feira que Berlim enfrenta uma “inflexão negativa” do crescimento.
No caso da economia francesa, a maioria dos analistas apostam em um modesto crescimento de 0,1% no segundo trimestre.
Os dados sobre a produção industrial na zona do euro explicam em parte esses dados sombrios. O Eurostat, instituto europeu de estatísticas, anunciou nesta quarta-feira uma contração de 0,3% em junho na zona do euro, que se soma à queda de 1,1% do mês anterior.
Riscos geopolíticos
Não parece que o horizonte seja outro no curto prazo, devido aos riscos geopolíticos que “aumentaram em todo o mundo”, segundo Draghi.
“O risco é que as consequências econômicas da crise ucraniana se transformem na gota d’água para a recuperação europeia”, comentava no fim de julho Peter Vanden Houte, do banco ING, sobre a adoção de sanções econômicas europeias contra a Rússia, acusada de apoiar os separatistas da Ucrânia.
Em resposta, Moscou acaba de decretar um embargo de um ano às importações de alimentos procedentes da Europa, um mercado de aproximadamente 11 bilhões de euros anuais.
A UE está analisando as consequências econômicas, mas não exclui criar um fundo de solidariedade de 400 milhões de euros para os setores mais atingidos.
A crise ucraniana pode repercutir também na confiança dos consumidores e da indústria europeia, prejudicando o crescimento para o restante do ano, como demonstrou o empresariado alemão, que teve uma acentuada queda de confiança na conjuntura do país em agosto.
Fonte: Exame