A expansão do número de pequenas e médias empresas no setor de serviços tem contrapartida no segmento de franquias. No ano passado, as microfranquias, negócios focados principalmente em serviços e com investimentos abaixo de R$ 80 mil, apresentaram índice de crescimento três vezes superior ao do mercado de franquias em geral, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Somado, o faturamento das microfranquias chegou a R$ 5,9 bilhões, 31% acima do registrado em 2012, enquanto o mercado como um todo registrou avanço de 11,9%. Em número de unidades, as microfranquias atingiram 17,1 mil pontos, uma expansão de 29%, contra o índice total de 9,4%. Elas também avançaram em participação, representando 5,11% do setor – no ano anterior, eram 4,4%.
Os serviços sustentam o modelo baseado em investimentos reduzidos, eliminando custos como pontos de venda, reformas e pessoal – via de regra, boa parte do trabalho é realizada pelos donos do negócio, e muitas marcas se apoiam no modelo home based (em casa). Segmentos como educação, reparos domésticos e serviços gerais estão entre os que deram impulso ao setor. Mas outros também se destacam, como aqueles voltados a qualidade e estilo de vida, o que inclui desde serviços de conveniência até beleza e saúde.
Entre os associados da ABF, o campeão das microfranquias é o Kumon, tradicional sistema de ensino de português, matemática e japonês, com 1.565 unidades. Para Keiko Sato, chefe do setor de recrutamento da marca, o franqueado, a quem cabe o papel de orientar os alunos, é atraído pela eficácia do método, que se transforma em propaganda boca a boca. O investimento inicial é de até R$ 50 mil. O segundo posto entre os associados da ABF pertence à Hoken, empresa com 892 unidades, metade delas em atividade. A marca é uma das que fizeram a fama de São José do Rio Preto, no interior paulista, como polo nacional de franquias, onde surgiram ainda redes como Microlins e Dr. Limp.
A Hoken nasceu há 16 anos para atuar na venda de filtros e transformou sua equipe de vendas em franquias para sustentar a expansão. Oferece as modalidades Micro, com investimentos de até R$ 15 mil; Basic, com loja e distribuição de produto para apoiar as menores; e Regional, meia dúzia de franqueados master. O crescimento da rede, que foi freado em 2008, deve ser retomado este ano com a troca do modelo de vendas pelo de aluguel, segundo o diretor operacional André Silveira.
Em relação à expansão em número de unidades, o ranking da ABF é liderada pela Nosso Bar, do segmento de restaurantes. Mas o segundo posto pertence à Mr. Limp, especializada em serviços como limpeza pós-obra, de telhados e tratamento de pisos, que em dois anos arrebanhou 198 franqueados. O terceiro, à Cartório Postal, serviço de conveniência para obtenção de documentos, que fechou o ano passado com 275 unidades, contra 93 no ano anterior.
A vitalidade do mercado fez surgir ainda grupos e serviços especializados, como Multifranquias, Zaiom e Troow. O primeiro representa sete marcas, com cerca de 350 unidades somadas: Emagrecentro, rede de clínicas de emagrecimento e estética com mais de 200 unidades; Emagrecentro Fitness, rede de academias para mulheres; Miss Hollywood, salão de beleza temático; Auto Spa Express, estética automotiva; Light Depil, fotodepilação delivery; Walking Party, ônibus customizados para festas e eventos; e Mundo das Pérolas, quiosques temáticos para venda de bijuterias com pérolas.
Os investimentos ficam em torno de R$ 50 mil – a mais cara é Walking Party, R$ 80 mil com o ônibus incluído, e a mais barata, Light Depil, a partir de R$ 30 mil – e o faturamento da empresa chega a R$ 45 milhões ao ano. Para Edson Ramuth, fundador do grupo e diretor de microfranquias da ABF, o crescimento da classe média, o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho e a busca de conveniência justificam o crescimento da empresa, que criou negócios home based há três anos. “Temos mais uma linha no forno na linha de bem-estar, com massagens a domicílio”, adianta.
Já o Zaiom deu a partida no projeto de microfranquia em 2008 com a marca Tutores, que atua na mesma área do Kumon, reforço escolar particular ou em grupo. Depois surgiram Home Angels, voltada a cuidadores de idosos; Dr. Faz Tudo, de manutenção doméstica e reformas; Home Depil, depilação estética; Amigo Computador, gestão de TI para pequenas e médias empresas; e, em abril, entra em operação a Gooblish, voltada ao ensino simplificado de inglês para as classes C e D. Hoje são cerca de 500 operações espalhadas pelo Brasil, com investimentos iniciais a partir de R$ 10 mil e capital de giro a partir de R$ 2 mil.
“A microfranquia preencheu uma lacuna para quem quer trocar o mundo do emprego pelo mundo do trabalho. A diferença é o investidor na liderança da prestação do serviço”, diz Arthur Hipólito, sócio do grupo. De acordo com ele, enquanto o investidor tradicional avalia o retorno sobre o capital investido, o microfranqueado quer mais, já que precisa levar dinheiro para casa. Em compensação, o risco é menor. Serviços são uma área inesgotável em um país em transformação como o Brasil e o franchising cria novas condições de suporte de marca, treinamento e continuidade”, defende. O grupo está desenvolvendo mais duas marcas, uma voltada a cerimonial de casamentos e outra a bufê de eventos.
A Troow, por sua vez, se especializou em transformar pequenos negócios em microfranquias. Nascida em São Paulo, a empresa está sediada em Piracicaba, tem uma unidade no Rio Grande do Norte e atua também na área de gestão e reestruturação de empresas, e com registro de marcas e patentes. “Metade dos negócios é com franquias. Já fizemos mais de 500 projetos e trabalhamos com 90 marcas”, enumera a especialista em Black Belt Elaine Bezerra. A própria Troow entrou no jogo – hoje a consultoria conta com 13 unidades franqueadas para a prestação de serviços de consultoria.
Fonte: Valor Econômico – 30/04/2014