Esqueça a mesa cheia de papéis, a calculadora como principal ferramenta de trabalho e a imagem de alguém que só pensa em números. O contador está conectado ao que acontece no mundo dos negócios e assumiu o papel de gestor de informações. “O contador não é mais um fazedor de guia, um despachante, mas um gestor de informação para as empresas”, destaca o contador e presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRCRS), Antônio Palácios. No Dia do Contador, comemorado ontem, os olhares se voltam para a evolução do perfil dos profissionais e também estimula o debate sobre os novos rumos e desafios da atividade.
As inovações tecnológicas são responsáveis pela maior incidência do contador na gestão empresarial. “Antes, o profissional de contabilidade trabalhava muito com o passado. O profissional do passado pegava o que já havia ocorrido e só demonstrava aquilo. O novo contador trabalha de forma on-line. Ele é um prestador de serviço que direciona a tomada de decisão da direção”, defende a coordenadora do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade São Judas Tadeu, Patrícia Coelho.
No momento em que a informatização chegou às empresas, pensou-se que a presença do contador seria extinta, lembra o vice-presidente de Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC, Zulmir Breda. “Ocorreu exatamente o oposto. O contador se tornou imprescindível nas empresas não só pelas exigências do Fisco, cada vez mais complexas, mas também em decorrência da própria necessidade de informações tempestivas que as empresas demandam para tomada de decisões”, defende.
As mudanças são percebidas no momento de escolha da profissão. Ser uma das carreiras mais conectadas coloca o curso de Ciências Contábeis entre os 10 mais procurados nos vestibulares das instituições de Ensino Superior do País, conforme dados do Conselho Federal de Contabilidade.
Outro atrativo para a atividade é a expectativa salarial. Nas empresas, a remuneração média da categoria é de R$ 5 mil, e um profissional no início de carreira recebe cerca de R$ 2 mil, também segundo o CFC.
Além disso, as mulheres estão mais interessadas na profissão, considerada durante anos exclusividade dos homens. Atualmente, elas já compõem 42% de prestadores de serviços em exercício, o que, segundo Breda, imprime um novo perfil à profissão. E a participação feminina também está mais forte nas entidades de classe e nos postos de comando.
Patrícia Coelho serve de síntese para a mudança no perfil da classe. Mulher, jovem e recentemente escolhida coordenadora do curso, ela conta que, para chegar onde está, seguiu uma tendência entre quem sai da academia. Foi em busca de qualificação em outras áreas.
Graduada em 2005 pela São Judas Tadeu, Patrícia buscou experiência além do ambiente empresarial. Ela ampliou os horizontes com uma MBA em Controladoria e outra em Gestão Empresarial e fez mestrado em Engenharia de Produção. Tudo isso para ter o que chama de visão integral do trabalho. “Estar presente na gestão aumenta a responsabilidade, faz com que uma informação mal gerada se reflita em muitas áreas. E o profissional acaba tendo também que conhecer essas outras áreas nas quais influencia”, destaca.
Contabilidade enxuta é tendência
Em um ano em que os termos recessão econômica e transparência empresarial estão entre os mais comentados, o assunto, quando se aproxima o momento de avaliar e apontar os novos rumos da profissão, não poderia ser outro. Como a contabilidade pode driblar as dificuldades financeiras para crescer e quais serão as áreas mais demandadas para isso?
A resposta a essa pergunta, diz a coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Faculdade São Judas Tadeu, Patrícia Coelho, está na Contabilidade Enxuta, ou Lean Accounting. Lean é o termo utilizado para denominar as mudanças efetuadas na forma tradicional da contabilidade de uma empresa que precisa adaptar-se aos processos de manufatura enxuta.
A contabilidade tradicional, desenvolvida para atender às demandas da produção em massa, diante da aplicação dos princípios Lean aos processos produtivos, sinaliza a necessidade de implantar esta mudança também nas áreas de apoio e medição, explica Patrícia em seu trabalho de mestrado sobre o assunto. Uma das principais razões para adotar uma forma diferente de contabilidade paralela à manufatura enxuta reside no fato de os indicadores contábeis tradicionais eventualmente levarem os tomadores de decisão a ações contrárias ao conceito Lean.
Em tempos de crise, os gestores empresariais devem começar a pensar em trabalhar com menos desperdício e gastos desnecessários. Para a especialista, “com um orçamento bem justo e controlado, a saúde financeira da empresa, com certeza, vai ter um futuro próspero”. “Hoje, a gente vê muita tentativa de economizar no processo produtivo, e o Lean é aplicado no chão de fábrica, mas e dentro do administrativo?”, questiona Patrícia, enfatizando que esse é um campo a ser explorado e uma tendência para a área contábil.
Por isso mesmo, a área de custos tem assumido importância cada vez maior nas empresas. “É a necessidade de melhorar a eficiência e a lucratividade, especialmente em razão da acirrada concorrência, além da crise que, muitas vezes, coloca em risco a própria existência das organizações”, ressalta o vice-presidente de Desenvolvimento Institucional do CFC, Zulmir Breda. Nesse sentido, a contabilidade gerencial, especialmente nas médias e grandes empresas, tem assumido cada vez mais relevância.
Fonte: Jornal do Comercio