São Paulo – Apesar dos recordes no volume de novos negócios, a participação do empreendedorismo no PIB do País só terá resultados significativos no final desta década. A perspectiva de abandono do negócio ante possível arrefecimento da crise é obstáculo para o setor.
A quantidade de novas empresas no País não para de crescer desde o começo do ano. Segundo dados da Serasa Experian, até abril, nasceram 674.975 companhias, uma alta de 4% em relação a igual período do ano passado (648.488) e o maior volume registrado na série histórica, que começou em 2010.
De acordo com especialistas ouvidos pelo DCI, apesar desse crescimento já ser algo esperado em momentos de crise, a participação desses novos negócios no Produto Interno Bruto (PIB) do País ainda depende não só da durabilidade dessas empresas, mas do engajamento do próprio empreendedor.
Para Luiz Rabi, economista da Serasa, o impacto desse segmento na economia é, ainda, a de “evitar uma maior queda do PIB”.
“Mesmo com a maior participação desses micronegócios na economia, o PIB ainda está em retração porque toda a atividade econômica cai. É um deslocamento de horas de trabalho de um setor mais produtivo para um menos produtivo, o que acaba gerando uma perspectiva de que, assim que a economia voltar a crescer, haverá uma migração desses empreendedores para o mercado de trabalho, onde não só a remuneração é melhor, mas também há benefícios”, explicou o especialista.
No entanto, assim como o nascimento de empresas cresce desde 2012, com alta de 5,3% em 2015 com relação a 2014 (de 1,86 bilhões para 1,96 bilhões), a participação do PIB também acompanha esse aumento. Segundo os últimos dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), esse segmento tem 27% de atuação no PIB desde 2011.
O professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (EAESP/FGV), Marcelo Aidar, afirma que, apesar do aumento de parcela na economia ativa “não necessariamente ser um bom sinal” -, uma vez que também representa “redução das grandes empresas” -, há um cenário otimista para o segmento.
Em relação ao cenário macro do País e considerando o desenrolar político e econômico, a expectativa é que para a recuperação e a retomada da atividade brasileira comece a dar sinais em 2018, e concretize uma melhora em 2019.
“São os dois lados da moeda. De um lado, os empreendedores por necessidade que voltarão para o mercado de trabalho. Mas, por outro, há quem enxergue uma oportunidade real. A redução na participação do PIB pode acontecer mais pra frente, sim, mas não será drástica. Há a sensação de que não tem espaço para mais ninguém nessa crise, mas em médio e longo prazo, o efeito é positivo. É algo que, com paciência, o País consegue recolher os frutos dessa recessão”, identifica o professor da FGV.
Trajetória ascendente
Segundo os especialistas, a tendência é que o nascimento de novas empresas continue, uma vez que nessa situação, “o ambiente empreendedor se torna mais atraente”.
“A crise tem um aspecto de movimentar as pessoas, que, agora, buscam novas formas de gerar renda e veem no empreendimento próprio uma oportunidade para isso. O problema é que cada um vai ter que encontrar formas de ser mais eficientes, de apostar no melhor nicho mas, sem dúvida, é uma trajetória ascendente”, complementa Aidar.
Um estudo inédito da Endeavor, no entanto, demonstra que muitos empreendedores ainda encontram desafios no caminho e, dessa forma, encaram o futuro de seus negócios de forma diferente.
Entre os empreendedores de alto impacto e alta performance (que têm características de crescimento contínuo e diferencial competitivo), 84% e 52%, respectivamente, querem tornar suas empresas maiores. Nos empreendedores em geral, que por sua vez são a maior parcela dos quase mil entrevistados, 43% afirmam ter como objetivo a garantia de renda própria ao longo dos anos.
Nas maiores dificuldades votadas, 20% dos empreendedores em geral afirmam que os processos burocráticos são os maiores desafios, enquanto os de alta performance e impacto consideram a gestão de pessoas como principal obstáculo para a companhia.
“A grande diferença é o propósito. Quem tem propósito social e motivação se torna resiliente e menos provável de culpar outra coisa além do seu próprio negócio. Por conta da crise econômica, no entanto, há mais pessoas empreendendo por necessidade, como fuga para ter dinheiro. Esses ficam mais suscetíveis a culpar o ambiente externo e a voltar para o mercado de trabalho, eventualmente”, ressalta Pablo Ribeiro, diretor de pesquisa e mobilização da Endeavor.
O executivo ainda destaca a necessidade de projetos de liderança e adequação de mentores que, apesar de serem as maiores dificuldades dos empreendedores “ainda são as vertentes menos investidas por parte dessas empresas”.
Para Rabi, apesar de o crescimento dos novos negócios tender a estabilizar no ano que vem, ainda é possível considerar a participação dos empreendedores remanescentes na economia brasileira.
“Esse nascimento de empresas liderado pelos MEIs [Microempreendedores Individuais] deve continuar no segundo semestre. A partir do ano que vem, dependendo muito da questão política, talvez a gente comece a ver os resultados da crise”, conclui.
Fonte: DCI – SP – Por: Isabela Bolzani