A onda de escândalos econômicos que afeta o Brasil pode ter inibido temporariamente a ação de fraudadores, de acordo com especialistas

As fraudes nas empresas brasileiras despencaram nos últimos 24 meses. A fatia de companhias que se declararam vítimas de crimes econômicos caiu para menos da metade. Em 2014, eram 27%. Em 2016, o número recuou para 12%, de acordo com a 8ª edição da pesquisa bianual sobre crimes econômicos da consultoria PWC.

O estudo, que contou com 211 empresas que responderam o questionário no País, não inclui a Petrobrás, alvo de investigação da operação Lava Jato. De acordo com a consultoria, a inclusão da estatal provocaria uma distorção no resultado.

Segundo a pesquisa, a parcela de empresas afetadas por crimes econômicos no Brasil é uma das mais baixas entre os 115 países pesquisados e representa apenas um terço da média global obtida em 2016 (36%). Também está muito abaixo da média dos Brics, grupo de países formado por África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia (39%).

A ocorrência de fraudes nas empresas brasileiras seguiu a tendência global de queda, porém de forma abrupta. A média das empresas que se declararam vítimas de crimes econômicos no mundo caiu, de 2014 para 2016, apenas um ponto porcentual. Na América Latina, a redução foi de sete pontos porcentuais e, no País, de 15.

Na opinião de Martin J. Whitehead, sócio da PwC Brasil, esse resultado foi, de certa forma, uma surpresa. É que, em meio a uma onda de escândalos de corrupção que assola o País, a queda no número de empresas que se dizem vítimas de crimes econômicos parece destoar do cenário atual.

O estudo aponta três motivos para o recuo. O primeiro é o maior investimento das companhias em controles de prevenção de fraudes, especialmente depois da entrada em vigor da Lei Anticorrupção, em janeiro de 2014. Segundo Leonardo Ruiz Machado, sócio da área de Compliance do Machado Meyer Advogados, movimento semelhante ocorreu no Chile entre 2009 e 2010, quando a Lei Anticorrupção entrou em vigor.

A segunda razão seria a insuficiência de controles para detectá-los. “É possível que a detecção tenha piorado, pois o crime se sofisticou”, diz Whitehead.

Por último, a onda de escândalos econômicos que afeta o País pode ter inibido temporariamente a ação dos fraudadores. “É difícil atrelar a queda a um evento específico”, diz o sócio da PwC Brasil, Leonardo Lopes, que acredita que a Lei Anticorrupção pode ter dado um impulso inicial nesse processo.

Apesar de a parcela de empresas que se declararam vítimas de crimes econômicos ter recuado significativamente no Brasil nos últimos 24 meses, a cifra envolvida nas fraudes é elevada em relação à média global. “O número de companhias afetadas pelos crimes econômicos caiu, mas o valor das fraudes é alto”, diz Martin J. Whitehead, sócio da PWC.

Uma pesquisa da consultoria aponta que 27% das companhias brasileiras que foram vítimas de crimes econômicos tiveram prejuízos financeiros entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões. Na média global, só 9% das companhias registraram perdas dessa magnitude, e a maior fatia das empresas (22%) amargou prejuízos entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão.

“No Brasil, há um grande problema de valor”, diz o sócio da PwC Leonardo Lopes. Ele explica que as cifras são maiores aqui quando comparadas à média global, pois estão relacionadas com o perfil do fraudador. No Brasil, 87% dos fraudadores ocupam cargos de alta e média gerência, ante 51% da média global.

Lopes explica que, como no Brasil o fraudador ocupa um nível hierárquico alto, ele tem autonomia para cometer crimes econômicos envolvendo cifras maiores. Tanto no Brasil como no mundo, o roubo de ativos é o crime mais frequente, com 65% e 64% das respostas, respectivamente. Mas o Brasil é o campeão em 115 países pesquisados com fraude em compras, com 58%.

Fonte: O Estado de São Paulo

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